‘Fera’ da TV Bahia, Jéssica Senra estreia nessa segunda-feira, promete jornalismo ‘olho no olho’

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A imagem da Oxum disposta no móvel da sala não está ali por acaso. As estátuas de Buda e Shiva por todos os lados também não. Muito menos os livros sobre feminismo na estante do espaço reservado à meditação. Durante três horas de conversa com o CORREIO, a jornalista Jéssica Senra, 34, 1,78m, mostrou que mistura em si a serenidade oriental, o gênio forte de uma entidade do candomblé e a inspiração dos livros de Simone Beauvoir.

Foto: Marina Silva / Correio

Jéssica é axé, namastê e girl power em uma pessoa só. Tudo isso junto, aliado a informação jornalística, promete estar no ar nesta segunda-feira (7), na TV Bahia, quando ela estreia à frente do Bahia Meio Dia. Engana-se, porém, quem acha que vai assistir apenas uma bela mulher cumprindo o papel de apresentadora de telejornal. Aliás, o fato de ser bela para os padrões sociais será apenas um detalhe. “Bela? Eu? Bela nada! Eu sou fera também! Sou muito mais inteligente que bonita”, diz.

Jéssica Senra foi contratada para ser apresentadora e editora do Bahia Meio Dia. Não aceitaria ser coadjuvante. Sempre foi assim: “Uma vez, depois de entrevistar um candidato a prefeito, ele disse que, se ganhasse a eleição, eu seria a primeira-dama.  Quem disse que eu queria ser primeira-dama? Se quisesse ser alguma coisa seria prefeita”.

Então, diferente do que muitos especularam, ninguém vai ver no ar uma Jéssica travada pela forma tradicional de fazer TV: “A TV Bahia não me chamou porque eu estava incomodando na concorrência e simplesmente me tirou de lá. A TV Bahia me chamou porque eu tenho a ver com a sua forma de trabalhar”.

Mas, que forma seria essa? Para ela, a nova televisão deve ser mais próxima das pessoas. Por isso, não vai deixar de dar opinião, como fazia na Record, onde trabalhou nos últimos seis anos. Ela promete convidar o público a contribuir. “Lá atrás, a gente aprendeu que o jornalismo é distante e não se envolve com o espectador. Mas, hoje, a comunicação exige a proximidade, o olho no olho, a identificação. A notícia comum está em todo lugar”, opina. Basta um clique. “Porque, então, eu vou assistir a TV Bahia e não vou assistir ou ler um jornal na internet, no meu celular?”, indaga. “Porque tem algo ali que combina comigo. Tem algo que está sendo oferecido que tem a ver com meus valores”, conclui.

A nova apresentadora já enxerga mudanças antes mesmo de assumir o jornal. “Se você observar, Silvana e Sodake já estão fazendo um programa mais leve, mais próximo. A sociedade está em mudança e a TV Bahia, de vanguarda que é, está mudando também”. Jéssica deixa claro que não terá amarras, inclusive políticas. “Eu já cheguei perguntando: ‘tem alguma restrição?’. ‘Não! Você tem liberdade para dizer o que você quiser’, disseram. Tenho carta branca”, garante.

Estreia

A estreia dessa segunda-feira, aposta a apresentadora, será apenas o primeiro dia de um grande projeto, porque  jornalismo se faz dia a dia: “Venho conversado muito sobre as mudanças que o jornalismo vem sofrendo e sobre o que eu penso a respeito da nova realidade. A gente não quer construir uma coisa da TV para o público, mas do público para a TV. Quem tem que pautar a gente é o público”.

De uns tempos para cá, a veia feminista pulsou com mais força em Jéssica. “Na verdade, sempre fui naturalmente feminista. Devo isso a minha mãe, que se separou de meu pai cedo e assumiu o comando da família”. Ao conhecer clássicos da literatura de gênero, passou a defender a igualdade de direitos entre homens e mulheres.“Quando se diz que a mulher é dócil, é porque se quer oprimi-la. Toda mulher é corajosa, forte e tem uma grande história de vida para contar”, aposta ela, que não tem vergonha de admitir que enfrenta o machismo do próprio marido em casa. “Meu marido é machista. A gente brigava porque eu não fazia o prato dele. Isso porque, antes de mim, a realidade que ele conhecia era da mulher que cuida da casa e dos filhos”, justifica.

O empoderamento se transferiu para a televisão e lá até tentaram pintar Jéssica como “a bela das manhãs”. “Isso me irritava profundamente. Bela das manhãs uma ova. Logo, me coloquei como mulher empoderada e isso mudou. Eu não sou um bibelô. As pessoas me acompanham pelo o que eu tenho a dizer”. Ela revela que sempre quis fazer jornalismo, não sensacionalismo: “Não queria pirotecnia policial. Sensacionalismo é preguiça. Negócio de botar preso em paredão não era a minha”.

Entre ser advogada, médica e apostar na carreira de modelo, Jéssica Senra ficou com o jornalismo. Muito antes de ganhar a sua primeira chance como jornalista, a mulher que promete mudar a forma de fazer TV na Bahia pensava em ser advogada criminal. “Eu era louca por aqueles filmes de julgamentos”, explica.

 

Alexandre Lyrio, do Correio 24h – Ibahia